Abrindo o Livro de Cabeceira
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estado bruto * estado puro Livros Livro 1 Livro 2 Livro 3 Livro 4 Livro 5 Livro 6 Livro 7 Livro 8 Livro 9 Livro 10 Livro 11 Livro 12 Livro 13 Livro 1b Livro 2b Livro 3b Livro 4b Livro 5b Livro 6b Livro 7b Livro 8b Livro 9b Livro 10b Livro 11b Livro 12b Livro 13b Livro 1c Livro 2c Livro 3c Livro 4c Livro 5c Livro 6c Livro 7c Livro 8c Livro 9c Livro 10c Livro 11c Livro 12c Livro 13c Livro 1d Livro 2d Livro 3d Livro 4d Livro 5d Livro 6d Livro 7d Livro 8d Livro 9d Livro 10d Livro 11d Livro 12d Livro 13d Livro 1e Livro 2e Livro 3e Livro 4e Livro 5e Livro 6e Livro 7e Livro 9e Livro 10e Livro 11e Livro 13e Livro 1f Livro 2f Livro 3f Livro 4f Livro 5f Livro 6f Livro 7f Livro 8f Livro 9f Livro 10f Livro 11f Livro 12f Livro 13f Livro 1g Livro 2g Livro 3g Livro 4g Livro 5g |
Tuesday, January 29, 2008 seus passossão mais lentos ou mais rápidos que a poeira das ruas? -kikks 1:42 AM
ela liga e desliga sozinha, mais eficaz do que se tivesse pago muito caro. vai durar pouco, eu sei (apesar de estar viva há mais tempo do que eu imaginava). sua respiração tem o mesmo volume do motor de um carro em noite fria. abro a janela para o ar entrar. no dashbord, dois graus. fecho a janela das incongruências e da vida prática que, confesso, também me excita, seja tropeçando em teclados, carrinhos de bebês ou bandejas. ela silencia de novo. o motor do carro morre por mais alguns instantes. do lado de fora, escuto o som do rádio abafado pelo vidro. não consigo decifrar a música porque ele isola as necessidades interiores, de alma mesmo, do mundo real de percorrer duas ruas em uma noite fria, encontrar o carro estacionado em uma vaga apertada e fazê-lo sair daquele buraco. não sei se a engasgada é do motor ou do motorista. mais uma vez ele tenta. mais uma vez, morre o motor. vão-se os dois, no tranco. olho de frente para a luz que sempre vejo de cima. pensei em ir para baixo e ver se algo aconteceria. algo que poderia ser qualquer coisa, mesmo um gato fugindo de sua própria sombra. não entendia direito o que ele falava a caminho do canal. uma constatação que era puro empirismo — ou pura poesia. tentava me explicar que os postes de luz são colocados geralmente em lugares onde o sol bate quando as luzes estão apagadas. apesar de ser meio nonsense, decidi acreditar. a teoria poderia ser outra até, mas, naquelas circunstâncias, preferi acreditar no que ele dizia. ou no que eu escutava ele dizendo. pensei durante horas no que poderia tê-lo salvado. viver mais uma meia dúzia de invernos pelo menos, reverberar além das entrelinhas. compartilhava intimidades se desintegrando. aquilo que não conseguia juntar em si mesmo era dado aos outros para completar pequenas fissuras alheias. e os outros eram muitos. eu era um desses muitos. soube disso ao sair de lá inteira. poderia passar horas andando pelas ruas, distribuir palavras poéticas pelo celular, levando o aconchego passear pelas ruas frias. poderia me trancar numa cozinha e contemplar uma janela onde vi meu reflexo tantas vezes. desejei isso. como desejei uma varanda com um pinheiro, uma janela com vista para o gramado, uma sala grande e escura onde era possível fazer sombras dançarem com a luz da madrugada. desejava, no fundo, apenas meu silêncio, o mesmo que aparece nas rolantes do metrô quando ainda há luz no céu (aliás, escadas rolantes são facilitadoras das inversões de cortázar: mudar de ângulo sem correr riscos físicos, apenas desfrutando certos desnudamentos). com este presente de janelas quebradas por texturas, olhava para fora como se buscasse algo dentro. resolvi, pela primeira vez, parar em lugares que são apenas ponto de passagem entre uma porta e outra. notei que havia um desenho na parede e que este desenho era de uma fresta da porta, uma espécie de grade trabalhada. senti a temperatura da pedra que fica neste intervalo, vi quatro vizinhos entrarem morrendo de frio, sem se darem conta de que chegar em casa começa muito antes de abrir a porta. -kikks 1:24 AM
bouilloire
-kikks 12:46 AM
(antes mesmo do que eu imaginava)
-kikks 12:40 AM
Sunday, January 27, 2008 ![]() -kikks 6:43 PM
muita observação, muito desabafo, muita citação (e pouca poesia) * eu volto, aos poucos, volto * -kikks 3:53 PM
Thursday, January 24, 2008 (quando a vejo nem com com 10 anos com o sentimento de escutar a si mesma na hora do rush...tive vontade de tomar um chá mais do que brincar de casinha) -kikks 11:47 PM
ando pensando de onde nascem as palavras nada demais. só ando pensando nisso. -kikks 11:46 PM
Wednesday, January 23, 2008 Rêves Critiques de Jean-Max Colard Je rêve un musée où des sculptures contemporaines ont perdu leurs couleurs, complètement blanches,.... -kikks 2:13 AM
Saturday, January 19, 2008 em 7 de dezembro, escrevi: 'Eu quero chegar a ser em uma película tão fina que quase se mistura com o ar.' agora, que cheguei neste grau de transparência, vou me esconder por trás de traços pretos, por trás de cinzas, por trás de fotos, por trás de números. há números, por incrível que pareça, eu ando fazendo uma contabilidade de pensamentos, coisa de gente doida. contabilidade de momentos em que, sem saber, a gente se cruza em um elevador.você abrindo o casaco, eu encostando em seu peito.
-kikks 10:28 PM
Wednesday, January 16, 2008 noite embarulhada de chuva(me faz pensar em São Paulo) -kikks 1:08 AM
chavão, eu sei, mas já havia passado inúmeras vezes por aquela fachada sem nunca ter lido isso. hoje, com a Mari e com a Marta, com ventania, dia propício para ler Hemingway -kikks 12:28 AM
Friday, January 11, 2008 Guillermo Arriaga é um homem que não chora, mas contou que, um dia, sentiu sua camiseta molhar-se com a dor do outro (mas as lágrimas, eram dele). hoje, dois filetes de água corriam pelo meu corpo, por baixo do kimono e da camiseta. por baixo da pele. cheguei a pensar que as lágrimas eram as mãos de um amante, pela maneira suave que andavam sem pressa sobre a pele, delicadamente e sem caminho tracejado. iam.ao acordar, as pernas pareciam algodão molhado. na meditação, mãos pequeníssimas, menores que de uma criança. e os sentidos surdos, nunca estiveram tão conscientes. -kikks 1:21 PM
Thursday, January 10, 2008 no meu sonho —eu ganhava um caderno escrito FIRME em relevo, em fonte rígida e dura. letras não impressas a tinta não sabia se estas palavras falavam de mim ou de quem me dava o presente. -kikks 12:28 PM
Wednesday, January 09, 2008 carta de Clarice Lispector datada de 1946e que acabo de receber do Puri por e-mail "Eu tentei deixar de fumar. Acontece porém que se eu não fumar fico sem nenhuma couraça. Fico feito criança, de uma sensibilidade terrível. Eu tenho resolvido muita coisa com um cigarro... Cigarro me dá paciência. Mas estou fumando menos. Não sei se pelo cigarro ou porque gasto muito a cabeça pensando, repensando e me preocupando e resolvendo mentalmente todos os problemas, estou sem memória. Aliás o médico disse que estou perdendo fosfato. . . Mas estou fumando menos. Mas como não fumar? Ontem à noite por exemplo M estava inquieto e disse: estou precisando de calor humano... Então fomos visitar [.] O calor humano é tão parco... Eu fumo então." -kikks 11:02 PM
Tuesday, January 08, 2008 "Désamparé je m'arrête, trop de choses à dire et comment les dire? Les souvenirs des oeuvres d'art se méleant à des souvenirs affectifs, à mon propre travail, à toute ma vie." GIACOMETTI-kikks 6:02 PM
ele dizia: está bonita, está muito bonita. mas em uma língua que não é a dele, nem a minha. ele disse: agora te entendo um pouco mais. ela queria dizer: para entender profundamente, só se aprender a cantar. * há homens que cantam e os que não cantam. os que cantam chegam a ser irritantes às vezes, principalmente quando cantam alto. gosto dos que cantam bem baixinho, quase sem balançar a cabeça, mexendo de leve um ombro ou outro. os que não cantam, geralmente, não sabem nem chorar direito. -kikks 1:12 PM
Monday, January 07, 2008 (em Bordeaux)vento com cheiro de lenha e céu vermelho na madrugada minha vista era um sino sempre parado, sempre em silêncio impassível, gritava por dentro; ultrapassando a si mesmo |
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