Abrindo o Livro de Cabeceira
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Monday, June 21, 2004 ando sonhando com katásUm segundo de frustração, outro segundo de medo, outro de concentração. Sentimentos que se alternavam com o cansaço físico, a falta de timing e os erros... Até que um tsuki jogou minha respiração pra areia. Como se o sol congelasse o instante. Senti um sorriso não explícito. Depois disso, toda vez que digo arigatougozaimashita, me lembro deste momento. Vi muitas sombras caminharem no mesmo passo formando um círculo na areia. Esbocei mais sorrisos. À esquerda, as sombras seguravam espadas. À direita, havia o mar. Eu senti a vida fluir. Então, o sorriso deixou de ser esboço. Arigatougozaimashita. -kikks 4:30 PM
a palavra do dia é perseverança
-kikks 4:29 PM
Saturday, June 19, 2004 Meu instinto é discreto.-kikks 12:57 AM
Sunday, June 13, 2004 no ano da égua pedi para que escrevesse "comportas" no meu braço direito porque eu não conseguia. era caneta bic. toda vez que eu pedia papel, você me dava uma caneta. azul. era uma das coisas que eu mais gostava. hoje eu apaguei suas letras. eu mesma posso escrever outra palavra qualquer. com a minha tinta. e eu posso pedir saudade.-kikks 2:51 AM
Ela disse: eu não entendo.
Ele disse: é questão de sobrevivência. -kikks 2:39 AM
eu já estava sem fôlego mesmo. não me importava colocar toda a minha vida nos fios de cabelo ou nos dedos dos pés. já estava tudo lá. datado. comprometido. entregue. o mais estranho é a pulsação seguida de uma sensação de leveza que se projeta quando levanto a cabeça. é apenas um movimento - olhar para o chão e olhar para o alto. tudo se sente, mas não se fala. mais impossível é atravesar para o interior. uma vez, eu disse que não entendia porque tudo era contido. nesse exato instante me dei conta de que teria sido melhor pensar em concentrado em vez de contido. agora entendo um pouco mais o silêncio. sobrevivência. pura - e puta - sobrevivência. uma vez eu falei em comportas. já pensei que pudessem explodir. no instante em que senti os pés latejando, a chuva embarulhava o teto. vai cair. não caiu. se eu pensasse em comportas, o teto cairia. mas senti condensação. hoje é assim. ainda assim, há uma faixa de segurança no metrô. não ultrapasse a linha amarela. ninguém quer cair.
-kikks 2:19 AM
Thursday, June 10, 2004 tinha esquecido do mais importanteeu queria apenas um milímetro a mais de pele -kikks 11:33 PM
você tem cheiro de mundo
-kikks 9:59 PM
acho que 90% é itálico mesmo
-kikks 9:56 PM
se você lê algo que parece que aconteceu, isso não aconteceu. e se você lê algo que parece que não aconteceu, é porque aconteceu. geralmente é assim que funciona. o que parece sentimento na verdade é fato. e o que parece narrativa é divagação.
lembrei do nome de um filme do furtado essa não é a sua vida -kikks 9:52 PM
eu deveria passar a minha vida inteira escrevendo apenas em itálico
-kikks 9:51 PM
na janela do carro era água derretida. o papel estava molhado. eu andava e sempre o som das botas. como é que faz o pé quando não está nas alturas? ele se arrasta, desliza, machuca-se. nunca mais vou ter os mesmos pés e as mesmas mãos. o esmalte não dura. os ombros doem e depois gozam. já viu ombro gozar? eu errava. errava. erro. erro muito. ontem, eu sonhei que errava, que continuava errando. e que havia joaninhas sobre um galho duro. elas estavam na extremidade e não caíam. joaninhas grandes e vermelhas. verdes com pintas brancas. elas eram efêmeras. os insetos duram pouco. penso se a gente também não é assim. aprendendo, errando, morrendo e nascendo. todo dia, todo instante.
-kikks 9:40 PM
Saturday, June 05, 2004 um pedaço de mim cruzou o círculo polar ártico. tem um outro pedaço de mim que eu não sei exatamente onde se encontra. mas não sei se isso tem muita importância agora. um pedaço de mim fisgou seus sonhos e passou os dedos dos pés pelo chão desenhando uma linha branca. estava escrito "círculo polar". foi o que eu vi. andei concêntrica e, quando voltei, vi de novo o mesmo filme. mas havia chegado antes em uma caixa de passado mais que contínuo. continua lá. eu me lembro disso tudo, do beaubourg em 24 de setembro, da exposição de hitchcock, de cocteau ( salle Coincidences). sempre me lembro de cocteau. sempre me lembro do azul. do azul visto do asfalto, da temperatura do corpo caído no chão. são olhos de cão azul. se tiveres um tempo, me conta como é o azul no círculo. eu não posso imaginar. mas se você me disser, eu vou saber reconhecer.-kikks 1:02 AM
Friday, June 04, 2004 o mundo tá dessa cor?-kikks 10:20 PM
Thursday, June 03, 2004 podia ser um ônibus passando, mas era madrugada. eram fios dourados no vento. é inverno em são paulo. tem dias que garoa e que faz muito frio. tem dias que você entra sem tocar a campainha. está aqui, já está aqui ao meu lado sem ruidos. traz o cheiro da respiração e o mundo incrustrado no corpo.-kikks 4:16 AM
Ela disse: estou chegando.
Ele disse: o chão vibra. -kikks 4:15 AM
pendi para o lado esquerdo. a cabeça caiu uma, duas vezes. os olhos se fecharam lentamente. abriram-se ao ar e aos gritos. meus pés latejavam. estava viva, sim. e seguiram as reticências. então, abri os olhos e estava tudo limpo. você parecia um jardim bem cuidado, com tudo em ordem, as mudas verdes. é por isso que seus olhos não pesam, pensei. e depois pensei: vou cuidar da minha pele. nada mais do que isso. se eu lavar cuidadosamente o rosto com espuma quando o dia ainda ainda estiver claro, vou conseguir me emocionar até mesmo nos momentos de frieza. me emocionar friamente. e poder chorar nos momentos certos. o peso é colocado com destreza em cima do salto de modo. o asfalto reage sem ecos. estou chegando.
-kikks 4:05 AM
Wednesday, June 02, 2004 de volta!com a alma solta pelo mundo. pedaços de mim na montanha, nos pássaros, no lago. perdidos e cansados depois de escorregar em calçadas de uma cidade que parece outra e outra e também outra. se parece com tantas que me pergunto quem é ela de verdade. não sei. ela tampouco. suas mãos me parecem finas. finas e pequenas. então é isso que sentem. me tocam e é isso. é apenas uma cidade, um bar, uma madrugada que se repete nas últimas horas do último dia. gosto de quando as coisas acontecem assim. a mesma bota de saltos gastos que fizeram eco na isle de st. luis arrebentando os carros da maior avenida da américa latina. é o que dizem. não me importa o que dizem. importa o que sinto. creo que alejandra escribiria así. o que sinto é que tudo se repete imensamente, que as mariposas voam, os escaravelhos aparecem na janela, os sonhos se repetem. sinto que sinto. sinto que estou de volta, tentando reconhecer a vida aqui. desta vez é mais fácil. aos que me procuram, eu estou aqui. com a alma apertada. com o sentimento abafado. com náuseas. e tudo isso é sentimento. sentimento que liberta. |
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