Abrindo o Livro de Cabeceira
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Sunday, July 30, 2006 eu costumava dar nome às caixas.tem uma que se chama "passado mais que contínuo" revisitei papéis, fotos, letras, cartas algumas coisas joguei fora, outras ficaram mas ainda há espaço a ser ocupado -kikks 3:21 AM
Friday, July 28, 2006 já passou um ano-kikks 8:52 PM
ele não tinha dentes, mas tinha braços e pernas fortes. e um carrinho com dezenas de caixas. boné gasto pelo sol. pele grossa. é conhecido pelos lojistas. é gentil e educado. me chamou de senhora. trabalha sete horas por dia: das cinco à meia-noite catando papel pelas ruas. não é mais um nem um mero.
-kikks 1:29 AM
fazia muito tempo que eu não me inspirava para pequenas crônicas talvez tenha sido porque peguei bonassi nas mãos talvez porque a vida cotidiana não me inspirasse mesmo -kikks 1:27 AM
Wednesday, July 26, 2006 é besta, eu sei, mas revisitando linhas antigas, me dei conta: gosto de contar passos. que eu gosto de dormir tarde para acordar cedo. antes, eu não gostava. antes, eu não sabia. gosto de ouvir vozes que estão longe. e de saber que podem estar perto. ainda me dá prazer ver uma revista nova e ler as minhas letras. pensar no velho-novo. ou no novo-velho. ouvir uma música muitas vezes. a mesma. acender um incenso e sentir ele se misturando com o vento. gosto de andar, andar sem fim. e matar saudade. ai, como é bom matar saudade. e imaginar se as letras estão lá onde as deixei.-kikks 5:18 AM
Monday, July 24, 2006 páginas espalhadasminha vida em caixas na mala, na casa de amigos em lugares que não existem -kikks 4:58 PM
Friday, July 21, 2006 pernas dormentes...mas o kiai sempre lá domo arigatogozaimassu, Flá -kikks 9:50 PM
Tuesday, July 18, 2006 meu corpo balançava desperto. leve e consciente. braços, pernas e lábios formigando. será que meus amigos sabiam que eu estava emocionada? meus olhos se encheram de lágrimas leves, daquelas gostosas, que não trazem tristeza. é um brilho. algo que se revitalizou. amigos. amigas. vidas. nos e-mails, na cozinha, no escritório da casa da vizinha, no celular, na mesa do café. um gato no colo. será que o musashi sabe? gato com nome de samurai. o mundo trepida. tento absorver todos os movimentos. o dono do café que sabe que meu capuccino é sem canela. a mesa na calçada onde escrevo para todo mundo e para mim. cartas, diários, bilhetes, afazeres. o salto gasto. quantas vezes, ele atravessou essa faixa. cento e noventa passos até o restaurante que não existe mais. quantas vezes não passei por aquela casa que tinha cheiro de sabonete da lush. pelo corredores de bambus e jasmins, colocava a cabeça na janela da cozinha e entrava pelos fundos. gostava da massa de gengibre, de shisso, do cheiro da barra de massagem. e de passar pelas ruelas estreitas, com árvores, brincando com os gatos do jardim, em cima do carro, no meio das plantas, atrás de um pneu, por entre as grades. ksx ksx ksx eu sempre chamo os gatos. eles sempre ouvem as botas. saltos gastos. da rua para o lixo. os restos de feira. beija-flor na janela. pássaros lindos e pássaros cinzas. o pinheiro amanheceu comigo durante mais de 1500 dias. e estamos sempre aqui. eu e o pinheiro. inteiros. sujos, gastos, refeitos, queimados de vento e de sol. a sirene da escola. e livros, sempre novos livros, em português, inglês, francês, espanhol. e aqueles que não foram escritos, em línguas desconhecidas. que decodificam sinais por outros canais. uma sensorialidade aguda. e suave. como é que pode? eu sempre me pergunto como é que pode. ter contato com uma essência sem nem mesmo precisar tocar nem a ponta dos dedos... e mesmo assim, saber que algo se mistura, se choca, explode, e volta ao centro novamente. as folhas do pinheiro caem secas. e fazem este barulho. escutas? talvez isso não importa. ceu vou dormir na hora em que ele acorda. se ele acordar. eu vi na webcam uma cidade amanhecendo. era seis e pouco da manhã, acho que era isso. o chão do metrô é áspero e as escadas-rolantes são longas. as esteiras rolantes são longas. o sol entra pela janela numa frestinha da janela, eu conheço a temperatura do seu quarto nos dias quentes e nos dias frios. pés descalços tentando imitar uma seqüência de iai em uma sala pequena, sem sapato, sem espada, sem tsuba. e agora que eu tenho tudo isso aqui, tudo isso que eu chamava de um nome, que eu dizia nunca, e que está aqui na sola dos pés?-kikks 6:59 AM
Monday, July 17, 2006 chegar em casa é muito bomincenso com cheiro envelhecido -kikks 2:47 AM
como linhas retas podem virar círculos?
-kikks 2:43 AM
SAKURAS de todos os tons ao vivo, em árvores, com abelhas... e uma folha de momiji gigante enfeitando o lado de fora do dojo andando sobre as águas num sol gelado -kikks 2:32 AM
Friday, July 14, 2006 rue de la Liberté-kikks 10:08 PM
Wednesday, July 12, 2006 saquei o venenoo perigo é viajar demais pelo dourado quando a vida é cor de barro sola suja de lama desgastada e suada meus braços estão fortes, no ângulo certo e leves já viajei no shodo, shodo, shodo -kikks 1:40 PM
fazia tempo que eu não ouvia bossa nova stan getz de manhãzinha é bom a bossa às vezes me irrita porque nem tudo é sempre muito triste nem muito belo... mas há alguns dias, estou suave quase vejo alexanderplaz da minha janela a manhã está meio transparente e o pinheiro tomou um banho de lama não me lembrava que nesta época ele ficava assim -kikks 1:31 PM
Sunday, July 09, 2006 liberdade-kikks 10:41 PM
Friday, July 07, 2006 a ju escreveu ao contrárionão volta ao casulo (mesmo que ela queira muito) -kikks 2:09 PM
toda vez que caio no chão depois de um taiatari, levanto mais leve
-kikks 2:09 PM
Thursday, July 06, 2006 era solidão e eu não sabia...(não fazia la más puta idea) -kikks 5:30 AM
quando era pequena não entendia como uma sensação tão quente podia deixar a alma gelada.
-kikks 5:29 AM
calêndula ou bétula, tanto faz, alívio em camadas -kikks 5:25 AM
cinzas ecoam sem fazer nenhum barulho -kikks 5:25 AM
quando chego nessa hora, nesse estágio, as letras escorrem. podem ir para onde quiserem. eu estou aqui e em qualquer outro lugar. inteira.
-kikks 5:21 AM
neblina . . . -kikks 5:20 AM
cheiro que me persegue. não entendo de onde é que ele vem. ele e a nuvem de poeira. diadorim e a neblina. -kikks 5:19 AM
se eu virar os olhos para a direita, o dia nasce. fixo os olhos na tela. presente, presente, presente. tenho várias listas mentais. úteis por sinal. (fragmentos pelas estantes) livros japoneses para a flávia (e para mim, a caixa da kiai), literatura latino-americana e portuguesa para o dudu, abensonados mia couto para a mari, os infantis para musashi, os quadrinhos para quem quiser, os mangás para quem comprar, clarice-ana c-alejandra-caio-cortázar ficam numa caixa para um dia atravessarem o oceano, roupas em bazares beneficentes, sementes e flores secas, vendo cama, geladeira, máquina de lavar, blow up e pé de máquina velha de costura (sem a máquina) para o rê, revistas para a carroça de um catador qualquer, meias-calças para a lídia. em que calçada andará lídia? me desfaço de pedaços de mim mesma. comigo meia dúzia de livros, um computador, alguns casacos (haja frio), as espadas e a armadura. pés descalços e alguns saltos marcando o asfalto. pequenos cadernos e tintas. levo algumas cerâmicas. enterro os cacos. amores perdidos, desencontrados, enterrados. caixas mentais e sono. muito sono. amanhã começo de novo. e amanhã também. deixo as expectativas do lado de fora da janela. para ter espaço para guardar a imagem de uma janela com um pinheiro. -kikks 5:01 AM
Wednesday, July 05, 2006 mais do que um momento do dia, tasogare é um estado de espírito-kikks 10:59 PM
Monday, July 03, 2006 sua voz é suaveela diz: - aceite -kikks 8:49 PM
Casa 44 a caminho da entrevista, me deparei com uma chácara (no meio da Santo Amaro... é só em SP que isso acontece), com uma mariposa alaranjada, borboleta na capa de um livro e páginas e páginas e uma mulher que me explicou a origem do meu nome, que é o nome da sua filha: erika é a única planta que sobrevive na áustria, ao inverno, aos contratempos e depois, depois, ela me disse que apenas eu mesma poderia decodificar, sentir, parar ou seguir nem falamos muito falamos encontrei pequenos quadros na parede do banheiro no plano objetivo, a aflição é grande, planejar, organizar. no subjetivo, um conforto que vem não sei de onde. fico aqui pensando o que é mais real. quando me tranqüilizo, tenho quase certeza de que é este conforto interno que me diz não importa que dia, não importa de que jeito, não importa nada: são apenas sons e gritos, braços que se levam, dentes à mostra e pele que se esconde. entro na luta morta. surge a imagem da Sensei Coen no domingo, falando de morte e olhando para os meus olhos. |
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